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Casamento pode ser obra de arte?

  • Foto do escritor: Bixa Analógica
    Bixa Analógica
  • 10 de ago.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 12 de ago.

Leia na íntegra as opiniões de especialistas sobre o tema.


Registro da exposição "Analógicas: Eternizar o Orgulho" - Fundação Ecarta - Porto Alegre (RS)
Registro da exposição "Analógicas: Eternizar o Orgulho" - Fundação Ecarta - Porto Alegre (RS)

Imagens de casamento são belas e emocionantes, mas raramente aparecem em museus ou galerias de arte contemporânea, a menos que sejam quadros históricos, por exemplo. Isso acontece porque o casamento ainda carrega o estigma de ser protocolar e repetitivo, enquanto o circuito artístico busca inovação e ruptura.


Recentemente, uma exposição de fotografias analógicas, na Fundação Ecarta, ganhou destaque na revista Bazaar Noiva, colocando casamentos no centro do debate artístico. A Revista Analógica ouviu especialistas para aprofundar essa discussão, que apontam que essas imagens, ao sair do instagramável e entrar na Fundação Ecarta, passam a dialogar com questões de identidade, memória e linguagem visual.


Uma coisa em comum que se ouve é a necessidade de as imagens terem expressão própria e uma narrativa que rompa o padrão pelo padrão. E, talvez, seja justamente o caráter protocolar que afaste o casamento dos circuitos de arte. Mas, quando a celebração rompe a previsibilidade e ganha intenção estética e narrativa, ela deixa de ser apenas um rito. E passa a ser um gesto criativo, carregado de significado, que revela a essência do casal e transforma o dia em uma experiência única.


"Como numa grande obra de arte", como diria a assessora de casamentos Analu, pois, de acordo com a Profª Andreia Penteado (UFRJ), “a arte está na forma como celebramos e representamos nossas conexões mais profundas”. Ao fim, não são meros registros, mas um legado para a eternidade.


Confira na íntegra a opinião das especialistas:



"Compreendo como arte o processo de escolhas na criação fotográfica. Na fotografia de casamento, tento ir além de momentos engessados e mecânicos: fotografar é participar ativamente da construção da memória do casal e de todas as pessoas presentes. Cada escolha se revela em uma linguagem única que não apenas estiliza o momento, mas se torna parte dele, utilizando o instante cerimonial como substrato poético para criar algo novo. São amores reais, pessoas reais, histórias de amor e companheirismo performando a vida e celebrando a escolha de estar juntos. A arte surge quando aquilo que é íntimo se conecta com o universal, tocando quem vê. É nas decisões do artista que a complexidade do momento se condensa, permitindo que a fotografia, por si só transmita sua voz."

Erikson Veríssimo (Artista visual, fotógrafo e idealizador da exposição de casamentos)


“Sim. Considerando que arte é expressão e que, pela lei, um casamento é uma declaração de vontade pública, livre e espontânea de um amor. Pode-se, então, considerar que casamento é o modo de expressão do casal. E a fotografia analógica é a prova de autenticidade de um fato. Quando escolhemos expor casamentos, queríamos falar não só de estética, mas, sim, da verdade. Estética vai e vem ao longo dos anos. A verdade permanece. Produzimos arte-documental com histórias de amores autênticos.”

Alexandre do Carmo (Artista visual, fotógrafo, jurista e idealizador da exposição de casamentos)


"Casamento é obra de arte, ou não? Pergunta instigante, já que compreendo a arte como uma forma de performar a vida e o casamento como forma de performar as uniões, sejam abertas, fechadas, binárias, hetero, homo, bi, trans e tantas outras... Então, sim, quaisquer casamentos seriam formas de estetizar a vida. Mas há outras camadas a considerar: além de casar ser uma forma de transformar a união em ato de arte, podemos registrar: fotografar, desenhar, falar, produzir, reproduzir, enfim... são campos abertos para a experiência de vida humana: arte como experiência!"

Profª Andrea Penteado (UFRJ) (Doutora e Mestre em Educação, Arte e História da Cultura, Artista Plástica)


"Vejo que a fotografia de casamento, tantas vezes relegada ao campo do registro funcional, pode emergir como obra quando rompe com a repetição do clichê e se instala no terreno sensível, quando o fotógrafo não apenas documenta, mas interpreta, quando a lente não capta o óbvio, mas se demora no intervalo, o sussurro entre os votos, a dobra de um vestido ao vento, o silêncio que antecede o “sim”. Trata-se de transformar o instante efêmero em permanência simbólica, de deslocar o olhar do mero retrato cerimonial para a construção de uma narrativa visual singular. Quando isso acontece, quando há curadoria no enquadramento, ritmo na edição e um pensamento poético por trás da composição, acredito que estamos, sim, diante de arte. Assim como Nan Goldin retratou os afetos marginais de sua geração ou Sally Mann revelou a intimidade de sua família com brutal honestidade, também a fotografia de casamento pode tocar o momento pregnante, desde que não queira apenas agradar, mas revelar, inscrever memória com alma. Arte é, afinal, aquilo que resiste ao tempo, e certas imagens de amor, quando verdadeiramente sentidas e magistralmente compostas, merecem essa eternidade."

Mariana Bahia (Curadora de arte e Fundadora do Instituto Vozes do Mundo)


"Para mim, celebrar um casamento é estar diante de uma obra de arte viva, criada em tempo real, como presenciar um quadro que se pinta diante dos olhos de todos, em que cada palavra, cada olhar, cada lágrima e cada riso são pinceladas únicas que jamais poderão ser repetidas da mesma forma. É como se o amor fosse tinta e o tempo, tela. No altar, vejo o amor se materializar não apenas como emoção, mas como expressão estética, como composição harmônica entre história, poesia e presença. Assim como na arte, nada é por acaso: cada detalhe é pensado e cada gesto carrega significado. Para que essa obra exista em sua plenitude, é essencial que todos os profissionais, fotógrafos, músicos, decoradores, assessores e celebrantes, trabalhem como artistas que, juntos, constroem uma experiência que será lembrada e sentida para sempre. O casamento, quando celebrado com verdade e intenção, é mais do que um rito: é performance, é narrativa, é arte efêmera que se torna eterna na memória de quem viveu aquele instante, e eu, como celebrante, tenho o privilégio de ser a voz que conduz essa criação."

John Mendes (Celebrante de casamentos)


Sim, com certeza! Um casamento pode ser considerado uma obra de arte, e não só no sentido simbólico ou poético, mas porque é, de fato, uma criação única, viva e irrepetível. O que acontece ali, naquele recorte de tempo e espaço, entre aquelas pessoas, é exclusivo e nunca vai se repetir da mesma forma. É um acontecimento que mistura emoção, história, estética, som, movimento, textura e sentimento, tudo isso em harmonia, como numa grande obra de arte. A arte pode ser pintada, bordada, tecida, esculpida, composta… e o casamento também. Ele é tecido por mãos que amam, pintado com as cores da história de um casal, composto com os sons da família e dos amigos e, o mais mágico, é registrado. No final das contas, o casamento não é só sobre o agora, mas também um registro para o futuro, uma forma de eternizar um sentimento, um contexto, uma essência. Pessoas que nem estavam lá, que nem nasceram ainda, vão poder saber um pouco sobre quem fomos, o que sentimos e no que acreditamos só pelos registros desse dia. Se isso não for arte, então eu tô maluca! É um acontecimento entre duas pessoas, mas que envolve famílias inteiras, memórias, simbolismos e um amor costurado em cada detalhe. Então, pra mim, não tem como separar: o casamento é uma obra de arte. Talvez seja uma resposta mais emocional do que técnica, mas é assim que eu sinto.

Analu Veselic (assessora de casamentos)


Ao final, pode-se considerar o casamento como uma obra de arte que vai além de um conceito abstrato. Essa ideia se manifesta na forma como cada celebração é vivida, compreendida, registrada e preservada na memória. O que está em jogo é a capacidade de ressignificar um rito tradicional em uma expressão viva, carregada de sentido e autenticidade.


Essas fotografias, ao se tornarem obras de arte, revelam o casamento como uma forma de expressão artística, aproximando o público da complexidade dessas celebrações. Elas convidam à reflexão sobre como momentos únicos podem transcender o registro documental para integrar o diálogo contemporâneo sobre memória, identidade e arte.



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